“O mundo está como está pois sempre foi governado por homens (...) as mulheres são incapazes de cometer as mesmas arbitrariedades que os homens”.
O sentido é: mulheres são seres bons, logo, incapazes de cometerem qualquer tipo de atrocidade. Esse é o papel dos homens. Ao ser questionado, por uma mulher, que dizia “ser tão durona quanto qualquer homem”, o responsável pelo primeiro comentário continuou sua argumentação, até a garota citar Margaret Tatcher. Ao que o rapaz respondeu: “Tatcher é um homem de saias”, afirmação esta que será melhor abordada ao longo do texto.
Como já dissemos no texto de mesmo nome que o blog, “Quem mandou nascer mulher?”, todos nós, homens e mulheres, somos construções sociais. Nascemos machos e fêmeas e, a partir de nossa educação, somos moldados, de maneira a nos encaixarmos nos modelos estipulados para meninos e meninas. Somos, portanto, resultados de um processo histórico, que pode ser diferente dependendo da sociedade em que se viva (sociedades indígenas divergem da nossa, ocidental, por exemplo). É preciso, então, atentar para a naturalização desse processo, pois isso significa tornar naturais “processos socioculturais contra a mulher e outras categorias sociais”[1], uma tentativa de “legitimar a ‘superioridade’ dos homens, assim como a dos brancos, a dos heterossexuais, a dos ricos”[2].
Tratemos, portanto, da construção do mito da docilidade feminina.
Quando pensamos em uma mulher, nos vêm à cabeça determinados valores e imagens: a maternidade, a afetividade, a esposa, a dona de casa etc (isso sem incluirmos a área de cosméticos). Quando não se pensa em esposa ou dona de casa (já que hoje vivemos uma sociedade que consegue, ainda que de maneira tímida, pensar a mulher fora desses papéis), pensa-se, certamente, na fragilidade, no amor, em como as mulheres são seres emocionais, dotados de imensa paciência e atentos a detalhes (inclusive, muitas vezes relaciona-se a mulher somente a profissões que exigiriam essas características, tal qual a enfermagem ou a docência).
Ora, se pararmos um pouco para pensar, este modelo de mulher não é mais do que parte do modelo burguês da família ideal:
“Frágil e soberana, abnegada e vigilante, um novo modelo normativo de mulher, elaborado desde meados do século XIX, prega novas formas de comportamento e de etiqueta, inicialmente às moças das famílias mais abastadas e paulatinamente às das classses trabalhadoras, exaltando as virtudes burguesas da laboriosidade, da castidade e do esforço individual. Por caminhos sofisticados e sinuosos, se forja uma representação simbólica da mulher, a esposa-mãe-dona-de-casa, afetiva mas assexuada, (...)” [3]
À mulher continua imposto o modelo burguês de “esposa-mãe-dona-de-casa”, ainda que não seja nenhuma das três. Ao sexo feminino estão associados o sacrifício, o amor, a bondade, sendo a mulher “identificada à religiosa ou mesmo considerada como santa, à imagem de Maria”. [4]
Ora, o simples fato de esse ser um modelo burguês já nos bastaria para mostrar que essas características não são inerentes à mulher, já que fazem parte de uma sociedade específica, diferenciando-se, portanto, de outras. Voltemos á afirmação do 4º parágrafo: somos construções sociais, resultados de um processo histórico e, trazendo novamente à tona Simone de Beauvoir, “uma sociedade não é uma espécie” [5]. Afirmar a existência de uma natureza feminina significa afirmar uma natureza humana, como se mudássemos apenas na superfície e a cultura não passasse de um epifenômeno [6]. Deixa-se de lado o fato de “(...) Ao contrário do reino animal, imerso na natureza e submetido ao seu determinismo, o humano – no caso, a mulher – é um ser histórico, o único vivente dotado da facudlade de simbolizar, o que o põe acima da esfera propriamente animal (...)” [7]
Citemos alguns fatores que podem deixar tais afirmações mais claras:
Claude Meillassoux, antropólogo francês, afirma estarem as relações de parentesco condicionadas ao modo de produção do grupo. Nas sociedades primitivas de caça e coleta, por exemplo, cada indivíduo era praticamente um ser auto-produtivo, sendo raras as atividades coletivas, estas feitas por adesão voluntária. Nesse sentido, “não havendo necessidade de coesão, os grupos são voluntários, de constituição frouxa, os indivíduos, tanto homens como mulheres, têm ampla autonomia e mobilidade entre os grupos, e os produtos do sempre efêmeros acasalamentos são tomados como filhos do grupo, uma vez feito o desmame, a prole nem sempre acompanhando os arbitrários deslocamentos dos pais. Os laços são de adesão, e não de parentesco, pois estes significariam estruturas diretivas da vida de cada indivíduo e de cada geração, isto é, laços parentais ligando indivíduos e gerações, o que não ocorre nesse tipo de agrupamento humano”. [8]. A mobilidade dos indivíduos é essencial para sua reprodução, pois embora os grupos sejam auto-produtivos, não são auto-reprodutivos, sendo necessárias mais pessoas para isso. No entanto, a partir do momento em que se introduz a agricultura no modo de produção, tais relações mudam. Uma vez feito o “investimento”, os indivíduos que o realizaram tendem a permanecer coesos por toda a duração do ciclo agrícola. Cria-se, portanto, a noção de duração, fazendo com que se passe “a relacionar, a criar vínculos entre as gerações (...), relações de parentesco, relações de filiação, passando a controlar, portanto, a mobilidade dos indivíduos que, como se sabe, é o mecanismo fundamental para a reprodução dos efetivos humanos das comunidades (...).”; [9]. A preocupação com a continuidade da produção passa a ser uma preocupação com a manutenção do grupo, ou seja, a manutenção de suas capacidades reprodutivas, sendo essencial o papel da mulher enquanto reprodutora. Torna-se necessária, portanto, sua pernanência no grupo. O homem, por outro lado, tendo uma capacidade reprodutora mais flexível, pode circular entre os vários grupos. Estabelece-se, então, a virimobilidade e a gineco-estática.
Não nos cabe aqui o aprofundamento na teoria de Meillassoux, mas trata-se um exemplo de como a constituição das relações entre homens e mulheres é histórica, não sendo puramente natural.
Para o mesmo fim, podemos citar também Margaret Mead. Em seu livro “Sexo e Temperamento”, a autora realiza um relato sobre a vida de povos primitivos, colocando em xeque os conceitos tradicionais sobre homens e mulhers. Afirma:
“Com a escassez de material para elaboração, nenhuma cultura deixou de apoderar-se dos fatos de sexo e idade de alguma forma, seja a convenção de uma tribo filipina de que o homem não sabe guardar segredo, a crença dos Manus de que somente os homens gostam de brincar com bebês, a prescrição dos Toda de que quase todo trabalho doméstico é demasiado sagrado para as mulheres, ou a insistência dos Arapesh em que as cabeças das mulheres são mais fortes do que as dos homens.” (grifos meus) [10]
Penso que os destaques falam por si só, mas vale a pena ressaltar: em algumas sociedades, homens desempenham papéis que para nós seriam considerados femininos, como o cuidado de bebês ou o trabalho doméstico. Claramente, não são essas funções naturais do um sexo ou outro.
Ou seja, voltando ao comentário que incitou a criação deste texto: mulheres não são seres pacíficos naturalmente, mulheres são educadas para desempenhar esse papel.
Peguemos, agora, um comentário feito neste post do blog Escreva Lola Escreva:
“’Vamos tornar grosserias na rua inaceitáveis’. Chamando eles de palhaços e outras coisas, e fazendo cara feia? Voltamos àquela conversa do post 'Como fazer com que eles escutem?'. Isso não muda a cabeça de ninguém. Vocês querem puní-los ou educá-los (os que estiverem dispostos a isso)?"
Muito bem. O homem responsável pelo comentário exige um comportamento específico das mulheres que sejam assediadas. Elas não devem brigar, devem educadamente dizer que não gostaram do que lhes foi dito, continuando, assim, em seu papel dócil e amável. À mulher não é permitido levantar a voz, a mão, enfim, reagir a uma grosseria. Esse homem, se alvo de uma brincadeira estúpida na rua, certamente não responderia com um abraço ou algo parecido. Enquanto isso, mulheres não devem fazer “cara feia”, pois isso não educa ninguém. Se alvo de uma grosseria, devemos passar a mão na cabeça do autor e dizer “não faça isso, não gosto, é muito feio, ok?”.
Infelizmente, por melhores que tenham sido as intenções do autor do primeiro comentário (engrandecendo a mulher, colocando-a como “bondosa”), ele é perigoso, pois a lógica por detrás dos dois textos é a mesma: a lógica dominante,que diminui a mulher enquanto sujeito político, limitando sua ação a atitudes condizentes com sua “pureza”. Essa é a “mulher pensada na linguagem romântica das classes dominantes (...), como encarnação das emoções, dos sentimentos, incapaz de resistir” [11] Um modelo de mulher que “implicou sua completa desvalorização profissional, política e intelectual” [12] A afirmação de que mulheres são seres dóceis foi utilizada repetidamente de maneira a depreciá-la, colocá-la fora de posições de liderança, e tratar como anormais aquelas que não se encaixam nesse papel, além de justificar inúmeras atrocidades, como o estupro, pois homens seriam “ativos” e mulheres “passivas”, devendo elas servirem ao homem.
Agora, a citação de Tatcher: “Margareth Tatcher é um homem de saias”. Se essa tentativa de argumentação fosse feita porque ela atua perpetuando o patriarcado de maneira a continuar com seus privilégios de classe, talvez fosse válida, mas, infelizmente, o uso corrente dessa “crítica” não se dá devido às posições políticas de Tatcher per se, mas sim pelo fato de tomar posições de liderança, agressivas. Desse modo, o que seria a crítica a uma pessoa conservadora acaba por exibir um conservadorismo de mesma índole (vale lembrar, porém, que esse “apelido carinhoso” é usado tanto por críticos do governo de Tatcher quanto por admiradores).
Desse modo, é preciso atentar para os diversos preconceitos que aparecem diluídos em nossa sociedade, pois é justamente por estarem diluídos que se tornam mais perigosos. Essa diluição se dá pela des-historicização de fenômenos históricos. É preciso ressaltar que “lembrar que aquilo que, na história, aparece como eterno não é mais que o produto de um trabalho de eternização que compete a instituições interligadas, tais como a família, a igreja, a escola, e também, em uma outra ordem, o esporte e o jornalismo (...) é reinserir na história e, portanto, devolver à ação histórica, a relação entre os sexos que a visão naturalista e essencialista dela arranca (....).
É contra estas forças históricas de des-historicização que deve orientar-se, prioritariamente, uma iniciativa de mobilização visando repor em marcha a história, neutralizando os mecanismos de neutralização da história”.[13]
[1] SAFFIOTI, Heleieth I.B, O Poder do Macho, Ed. Moderna, p. 11.
[2] Idem.
[3] RAGO, Margareth, Do Cabaré ao Lar – A Utopia da Cidade Disciplinar, Brasil 1890 – 1930, Ed. Paz e Terra, p. 82.
[4] Idem.
[5] BEAUVOIR, Simone de, O Segundo Sexo, Ed. Difusão européia do livro, p. 56.
[6] Badinter, Elisabeth, Um amor Conquistado – O Mito do Amor materno, Ed. Nova Fonteira, p. 15;
[7] Idem
[8] GARCIA, Francisco Montero, Ser Social, Dominação e Violência – Um estudo do binômio dominação-violência a partir de uma perspectiva ontológica, com ênfase na questão de gênero. Doutorado em Ciências Sociais, PUC/1999, p. 161.
[9] Idem, p. 162.
[10] MEAD, Margaret, Sexo e Temperamento, Ed. Perspectiva, p. 24.
[11] RAGO, Margareth, Do Cabaré ao Lar – A Utopia da Cidade Disciplinar, Brasil 1890 – 1930, Ed. Paz e Terra. p. 70
[12] Idem, p. 65
[13] BORDIEU, Pierre, A Dominação Masculina, Ed. Bertrand Brasil, p.5.
[6] Badinter, Elisabeth, Um amor Conquistado – O Mito do Amor materno, Ed. Nova Fonteira, p. 15;
[7] Idem
[8] GARCIA, Francisco Montero, Ser Social, Dominação e Violência – Um estudo do binômio dominação-violência a partir de uma perspectiva ontológica, com ênfase na questão de gênero. Doutorado em Ciências Sociais, PUC/1999, p. 161.
[9] Idem, p. 162.
[10] MEAD, Margaret, Sexo e Temperamento, Ed. Perspectiva, p. 24.
[11] RAGO, Margareth, Do Cabaré ao Lar – A Utopia da Cidade Disciplinar, Brasil 1890 – 1930, Ed. Paz e Terra. p. 70
[12] Idem, p. 65
[13] BORDIEU, Pierre, A Dominação Masculina, Ed. Bertrand Brasil, p.5.
o pior é que, sem querer, muitas vezes nos percebemos agindo como bonequinhas de porcelana; frágeis e dependentes....
ResponderExcluirMuito bom o post, vou publicá-lo no http://contramachismo.wordpress.com/
ResponderExcluirJúlia, parabéns pelo texto. É inspirador!
ResponderExcluirEsse texto me faz pensar também no papel decorativo que as mulheres assumiram na sociedade moderna, sendo sempre associadas à flores (tanto em suas roupas, ou decorando a casa que é um espaço de estensibilidade de seu corpo).
Obrigada por colocar citações!
Beijos
Muito bom!
ResponderExcluirSem dizer que fora 'o homem de saias' e a 'princesa dócil do castelo', há tb outra configuração histórica da mulher: a puta.
Bjos.
Ah, preciso dizer que adorei esse finalzinho:
ResponderExcluir"É preciso ressaltar que “lembrar que aquilo que, na história, aparece como eterno não é mais que o produto de um trabalho de eternização que compete a instituições interligadas, tais como a família, a igreja, a escola, e também, em uma outra ordem, o esporte e o jornalismo (...) é reinserir na história e, portanto, devolver à ação histórica, a relação entre os sexos que a visão naturalista e essencialista dela arranca (....)."
Pq pode-se perguntar: Tá, se não é natural como se perpetua?
E esse trecho responde claramente.
Parabéns pelo texto!
ResponderExcluirSempre acabo discutindo com meus amigos tentando explicar que as mulheres não são necessariamente "passivas" nem mesmo sexualmente, porém, é claro, sou tido como excêntrico e minhas ideias ridicularizadas.
Sempre fui contra esses sexismos medíocres e acredito que tais padronizações de comportamento devem ser radicalmente constipados.
As próprias mulheres também são culpadas desses exteriótipos, se submentendo a papéis que, em primeiro lugar, elas nem querem. A tal Síndrome de Cinderela tem que finalmente acabar com uma mudança não só da criação familiar mas também com profundas conscientizações dos órgãos do estado, como as escolas e igrejas.
Mais um vez parabéns pelo texto e pelo blog, já sou fã!
Obrigada, pessoal :) queria fazer um texto muito maior, mas aí já ficaria muito grande pra um blog, e até meio confuso... tamos pensando em fazer algo como uma série sobre esse tema (já que ele dá muito pano pra manga), mostrando as diversas maneiras de perpetuação desse mito etc. Inclusive há o que a Vanessa falou: se existe o mito da mulher "dócil", existe também o da "puta", que merece ser colocado em pauta (e será!).
ResponderExcluirRafael, a respeito das mulheres serem culpadas dos esteriótipos, discordo que as mulheres sejam CULPADAS por isso. Veja bem, é lógico que as mulheres encarnarem esses modelos é um modo de perpetuação do machismo, porém, dizer que são culpadas já acho demais, pois existem n motivos para alguém se encaixar em seus papéis na sociedade, e isso não é nem um pouco difícil, o difícil é remar contra a maré!
Como disse, são inúmeras as instituições que colaboram para a perpetuação desse modelo, e não é a simples liberação individual que irá superá-lo. Enquanto não mudarmos a família, a escola, o Estado etc, não haverá essa mudança.
A mulher sofre todo o tipo de pressão para se encaixar no modelo "dócil". Ela pode ceder por medo, ou pode ceder mesmo sem saber, pois teve uma educação que a modelou assim. De qualquer forma, em nenhum dos casos a mulher é CULPADA, ela continua sendo vítima.
Dizer que as mulheres são culpadas pela própria mazela é dizer que oprimidos são culpados pela própria opressão... essa é uma das maneiras para que o oprimido veja sua situação como natural, matando seu espírito revolucionário, capaz de mudar as coisas. É claro que há níveis e níveis disso, você não disse "ah, elas são culpadas, que se dane". Entendi seu ponto, mas acho que devemos ter mais cuidado na hora de falar, pois ninguém se submete a um papel que não é seu simplesmente porque quer.
Abraços!
Adorei seu texto! Me lembrou um pouco a época de monografia, mas isso dá seriedade ao texto, acho muito bom! Aprendi com seu post, vou até encaminhar para umas amigas que leem besteira por aí e acreditam sem nem questionar. =D
ResponderExcluirE Rafael, cara, se você mesmo que é homem, sente na pele como é Chato e Difícil pensar diferente do seu grupo de amigos, por exemplo, imagina uma Mulher sair do seu papel e fugir aos padrões impostos por toda a sociedade? Cara, dá muito trabalho, e a gente todo dia no mínimo ouve alguma censura, eu aguento, mas posso exigir que todo mundo seja como eu? A sociedade como um todo tem que mudar, não só as mulheres 'deixarem de baixar a cabeça'.
Existem Muitas mulheres que não tem força pra isso, do mesmo modo como eu vejo quase todo homem que conheço não fazer nem uma forcinha para sair do papel de ser superior que a sociedade colocou ele, por mais esclarecido que seja o cara, pois é confortável, muito.
Sempre tem um para dizer 'mas as mulheres são culpadas também', porque só nos veem "Falando mal dos homens, e esquecendo das mulheres que colaboram", a gente não esquece, elas são nossas avós, nossas mães, nossas tias, nossas amigas, colegas de trabalho, etc, estamos cercadas por elas, mas o fato é que os Homens são quem lucram com isso, capisce?
Sabe, ninguém fica falando 'Ah, os escravos, eles eram culpados por serem escravos, eles não se rebelavam, eles deixavam os senhores de engenho maltratarem eles, contribuíam para continuarem escravos ao ensinarem a seus filhos a obedecer cegamente os donos, só para não levarem umas chicotadas quem sabe até a morte...' não falam pq hoje a história mostra que vários grupos se rebelavam e fugiam, morriam no processo, até em novela da globo passa isso... Mas ó, nossos grilhões são invisíveis pra muitos, aí complica, pq vem outro e diz 'vocês estão se fazendo de vítima!', haja paciencia...
O_o wow, primeira vez que comento aqui e já escrevo uma redação, foi mal Maria Júlia! Me corrige aí se falei alguma bobeira! =P
Puxa, valeu! :)
ResponderExcluirÉ bem por aí, não falou bobeira não rs.
Esses dias estava conversando com minha mãe, e ela disse que passou aquele documentário "Olhos Azuis" para a sala dela. Depois, perguntou se alguém ali havia sofrido algum tipo de preconceito (machismo, racismo etc), e todo mundo disse que não (mesmo a sala sendo de maioria mulher, e maioria negra, ainda). Ela disse pro pessoal pensar um pouco mais, e aos poucos elas foram percebendo que eram exploradas pela própria família, pois trabalhavam o dia inteiro, estudavam à noite e depois ainda teriam que chegar em casa e arrumar a comida para o dia seguinte (e o maridão, que já estava em casa, pq não fazia isso?).
Aí ela perguntou: se alguém na sua casa pegasse seus chinelos, trouxesse um cházinho pra você quando você chega etc, vocês reclamariam?
- claro que não, professora!
- então pq vcs acham que o marido de vocês vai reclamar?
É...
"Olhos Azuis" está na minha lista de filmes para assistir quando o vir vendendo por aí ou achar [sem querer] na net [não saio procurando, ou já tinha achado XD]
ResponderExcluirÉ, a sociedade acha natural, normal, se desde pequenas elas fazem isso, não vão achar estranho e dificilmente vao parar para pensar que isso é desigual, como se desde pequenas usam um veu cobrindo o rotso e todas as mulheres que elas conhecem usam também o veu, pq ela pensaria em não usar? =P
[Aí entra religião e dominação e tal, mas é só pra ilustrar, a gente percebe melhor nas culturas diferente da nossa as desigualdades.]
Hm, acho que tem o filme todo no youtube. Eu achei o dvd em uma feirinha...
ResponderExcluirPois é, é bem assim. Mas a religião, sendo parte da sociedade, é uma das que trabalham para a manutenção dos preconceitos... não podemos pensá-la de forma alheia à sociedade. Como estamos acostumadas à nossa cultura (óbvio), não conseguimos enxergar direito o machismo em nossos costumes (pq, mesmo que sejamos ateus ou sei lá, a moral cristã permeia toda a sociedade brasileira).
Olá! Também estou conhecendo o blog agora e estou bastante empolgada, rs. Tem uma série de questões que parecem ter sido tratadas em outros posts e pretendo me dedicar a ler com calma, especialmente quando se tratar do assunto de como as mulheres deveriam reagir (foi mencionado nesse post).
ResponderExcluirJá me ocorreram diversas situações em que reagi a assédios masculino (daqueles tidos como "naturais") e tive que ouvir muita besteira, inclusive da minha família sobre a minha postura reativa e não passiva mediante esse tipo de situação. Concordo com a Débora sobre a mulher que quer sair do seu papel e encontra dificuldades até para se explicar para mulheres ao seu redor... é uma luta, rs.
Também tenho a impressão de que essa dicotomia entre a mulher santa e puta é recorrente até para as próprias mulheres. Legal abordar os dois aspectos.
Bom, quanto à coisa da culpa, acredito que não é que as mulheres também sejam culpadas, mas que o público feminino também está imerso nesta cultura que coloca a mulher como o sexo frágil. Acho também que os esforços para uma mudança só terão sentido se partirem das próprias mulheres! De outra forma, a metáfora da "princesa em apuros" continuará vingando...
Ah, sim. Vou procurar esse filme no youtube, as pessoas me falam sobre ele constantemente! E muito obrigada pelas dicas de leitura, Margareth Mead já tive a chance de ler outra obra, mas "Sexo e temperamento" vai entrar para a lista =].
Como é bom este blog de vocês, capaz de fazer a gente parar e pensar - coisa que a maioria das pessoas nunca lembra de fazer. Obrigada por partilharem seus conhecimentos e opiniões.
ResponderExcluirSim... as mulheres também estão imersas na cultura machista, por isso também a dificuldade em sair nela. Mas a libertação das mulheres só vai acontecer a partir delas :)
ResponderExcluirLogo mais teremos mais texto aqui ;)
Camila, obrigada pelo elogio :) espero que continue acompanhando o blog
ResponderExcluirTenho de discordar contigo nalgumas coisas. Estás a tratar as mulheres como umas criancinhas sem consciência própria, sem capacidade de mudar. Elas não são apenas vítimas, elas estão acordadas para o mundo que as rodeia, tanto que já houve muitas mudanças ao longo dos séculos. Elas são inteligentes, têm livre arbítrio, podem escolher os seus caminhos. Bem sei que às vezes há bastante pressão mas elas também não são obrigadas a submeter-se aos papéis que são esperados delas.
ResponderExcluirMas é óbvio que as mulheres estão acordadas para o mundo em que vivem, mas a questão não é essa.
ResponderExcluirÉ fácil dizer que uma mulher pode escolher os seus caminhos se você tem uma vida fácil... acontece que há inúmeros fatores que contam: raça, gênero e classe. Mulheres de classe média ou da alta burguesia têm mais direitos conquistados, pois elas tem dinheiro.
Já viu o vídeo da marcha feita pela Marcha Mundial de Mulheres, no ano passado? Uma senhora diz que concorda com o movimento, que gostaria de estar lá junto com as outras mulheres, mas ela não podia, porque tinha que fazer o almoço para o seu marido.
Então as mulheres não são obrigadas a submeter-se aos papéis que são esperados delas? Claro, ninguém vai por uma arma na nossa cabeça e dizer "use saia", "seja 'mocinha'" etc etc, mas até aí, dizer que não há obrigação, ou que somos livres, é falta de senso de realidade.
E reconhecer uma situação de opressão não implica, de maneira alguma, em achar que os oprimidos são criancinhas sem consciência.
ResponderExcluir