Sou mulher, lésbica, e de esquerda. Já escutei muito que era um desejo de ser “minoria”, já escutei muito que é paranóia, já escutei muito sobre liberdade sexual e de que vivo em uma democracia.
Nunca acreditei nisso, porque vivo na pele a discriminação por ser uma mulher, por ter nascido com uma vagina; Me fizeram objeto de decoração, me deram um estereótipo, um comportamento, um biótipo, me deram “minhas” palavras. Sinto todos os dias um medo de demonstrar meus afetos porque sou lésbica. Ainda que viva em um ambiente ligeiramente libertário, que toda minha família saiba, sofro na pele a discriminação do meu amor. Não somente quando estou com outra mulher, mas, também, em círculos sociais, nos quais você fica cuidando para não ser tão afetuosa e suas amigas não acharem que você está dando em cima delas, em usar certo tipo de roupa para que não fiquem me chamando de “caminhoneira”. Sou de esquerda, militante. Acredito na revolução e a construo diariamente, escuto sempre que somos desocupados, que somos “saudosistas de 68”
E essas três coisas, que são meu tripé de identidade, que me fazem ser o que sou e que garantem que nunca tenha deixado a vida, são exatamente pelas quais sinto medo. Porque vivo em um Estado terrorista de bandeira hasteada, contra meu gênero, minha sexualidade, minha posição política. Não posso andar livremente, não posso amar livremente, e não posso me expressar livremente.
Todos os dias vejo estatísticas e dados sobre violência contra a mulher e contra LGBTTT, todas oferecidas de uma forma mecânica, impessoal, sem citar nome. Tod@s nós convertidos em uma cifra impressa no papel, em mera estatística. Uma legião de sem rostos que tem todos os dias sua dignidade arrancada, a vida ameaçada porque paira um consenso (hipócrita, porque poucos assumiriam isso) de que não somos gente, de que somos pequenas aberrações que a psicanálise, a religião, a ciência podem curar. Um consenso de que os “cidadãos de bem” podem pedir a seu deus que nos cure do nosso amor “errado”, de que podem pedir à ciência deles alguns tratamentos para nos livrar desse “mal”, de que podem explicar por teorias nossa “atração”.
Esses “cidadãos de bem”, fervorosos defensores da moral e dos bons costumes, mantém seus filhos longe de nós, nos impossibilitam a união civil, a adoção de crianças, a educação sexual para homossexuais. De acordo com sua cartilha estúpida, somos seres promíscuos, sujos. Por isso podemos ser espancad@s, violentad@s, estuprad@s, xingad@s. Tudo de acordo com a boa moral do homem branco e heterossexual.
Mas, por detrás de cada número, existe um rosto, escondido da família “de bem”, que não entra nas menções do casal Boner.
Hoje tomei ciência de que um desses rostos era de um conhecido meu, um companheiro militante, uma pessoa que vejo há um ano todos os dias. Espancado na esquina da sua casa por ser gay. Espancado na esquina da sua casa por não seguir um padrão. Espancado na esquina da sua casa por dois “cidadãos de bem”, que transitam livremente pelas avenidas da cidade.
Além dos hematomas, da tristeza, da humilhação, esse companheiro tem também em mãos um B.O. no qual a delegacia não quis registrar a queixa como agressão por homofobia. E isso levaremos todos para o resto das nossas vidas.
Me restam muitas lágrimas de desespero, um ódio por toda essa hipocrisia social, me resta um desejo gigante de que a revolução venha, me resta que seja somente possível um dia sair a rua sem medo. Me resta esperar menos hipocrisia. Me resta esperar um momento em que ninguém acredite que seu amor/atração/afeto por outrém é maior e mais legítimo do que o nosso. Me resta, ao menos, não escutar mais que não tenho motivos para militar, para fazer da minha vida a militância e meu único desejo a revolução.
Nunca acreditei nisso, porque vivo na pele a discriminação por ser uma mulher, por ter nascido com uma vagina; Me fizeram objeto de decoração, me deram um estereótipo, um comportamento, um biótipo, me deram “minhas” palavras. Sinto todos os dias um medo de demonstrar meus afetos porque sou lésbica. Ainda que viva em um ambiente ligeiramente libertário, que toda minha família saiba, sofro na pele a discriminação do meu amor. Não somente quando estou com outra mulher, mas, também, em círculos sociais, nos quais você fica cuidando para não ser tão afetuosa e suas amigas não acharem que você está dando em cima delas, em usar certo tipo de roupa para que não fiquem me chamando de “caminhoneira”. Sou de esquerda, militante. Acredito na revolução e a construo diariamente, escuto sempre que somos desocupados, que somos “saudosistas de 68”
E essas três coisas, que são meu tripé de identidade, que me fazem ser o que sou e que garantem que nunca tenha deixado a vida, são exatamente pelas quais sinto medo. Porque vivo em um Estado terrorista de bandeira hasteada, contra meu gênero, minha sexualidade, minha posição política. Não posso andar livremente, não posso amar livremente, e não posso me expressar livremente.
Todos os dias vejo estatísticas e dados sobre violência contra a mulher e contra LGBTTT, todas oferecidas de uma forma mecânica, impessoal, sem citar nome. Tod@s nós convertidos em uma cifra impressa no papel, em mera estatística. Uma legião de sem rostos que tem todos os dias sua dignidade arrancada, a vida ameaçada porque paira um consenso (hipócrita, porque poucos assumiriam isso) de que não somos gente, de que somos pequenas aberrações que a psicanálise, a religião, a ciência podem curar. Um consenso de que os “cidadãos de bem” podem pedir a seu deus que nos cure do nosso amor “errado”, de que podem pedir à ciência deles alguns tratamentos para nos livrar desse “mal”, de que podem explicar por teorias nossa “atração”.
Esses “cidadãos de bem”, fervorosos defensores da moral e dos bons costumes, mantém seus filhos longe de nós, nos impossibilitam a união civil, a adoção de crianças, a educação sexual para homossexuais. De acordo com sua cartilha estúpida, somos seres promíscuos, sujos. Por isso podemos ser espancad@s, violentad@s, estuprad@s, xingad@s. Tudo de acordo com a boa moral do homem branco e heterossexual.
Mas, por detrás de cada número, existe um rosto, escondido da família “de bem”, que não entra nas menções do casal Boner.
Hoje tomei ciência de que um desses rostos era de um conhecido meu, um companheiro militante, uma pessoa que vejo há um ano todos os dias. Espancado na esquina da sua casa por ser gay. Espancado na esquina da sua casa por não seguir um padrão. Espancado na esquina da sua casa por dois “cidadãos de bem”, que transitam livremente pelas avenidas da cidade.
Além dos hematomas, da tristeza, da humilhação, esse companheiro tem também em mãos um B.O. no qual a delegacia não quis registrar a queixa como agressão por homofobia. E isso levaremos todos para o resto das nossas vidas.
Me restam muitas lágrimas de desespero, um ódio por toda essa hipocrisia social, me resta um desejo gigante de que a revolução venha, me resta que seja somente possível um dia sair a rua sem medo. Me resta esperar menos hipocrisia. Me resta esperar um momento em que ninguém acredite que seu amor/atração/afeto por outrém é maior e mais legítimo do que o nosso. Me resta, ao menos, não escutar mais que não tenho motivos para militar, para fazer da minha vida a militância e meu único desejo a revolução.
Ótimo post. Exatamente como me sinto. Tb sou lésbica e já passei por muita discriminação, principalmente na época da escola (que período infernal =D).
ResponderExcluirPq acham que somente seremos felizes se atingirmos o padrão "outdoor" de família em alguma propaganda de condomínio residencial -> marido + filhos sorridentes + labrador no quintal com cerquinhas brancas? Pq cobram isso da gente?
A hipocrisia reina. Torço para que eu sempre consiga ficar cada vez mais distante dela.
No mais, adorei seu blog! Parabéns!